Tentando definir a vida
Para não ficar reinventando a roda, vejamos o que diz o Houaiss. Dentre as 12 diferentes definições, encontramos algumas que se referem ao significado biológico da palavra.
"2 - propriedade que caracteriza os organismos cuja existência evolui do nascimento até a morte
2.1 - Rubrica: genética. um sistema capacitado a submeter-se ao processo de evolução por seleção natural (que envolve replicação, mutação, e replicação de mutações)
2.2 - conjunto de atividades e funções orgânicas que constituem a qualidade que distingue o corpo vivo do morto"
Estas definições servem ao uso comum da palavra. Mas uma análise crítica mais aprofundada do conceito irá revelar suas fragilidades. Como diz Hélio Schwartsman a respeito da definição de vida:
"Aqui os dicionários não são de grande utilidade. Eles trazem versões variadas da definição fisiológica, pela qual um ser vivo é "um sistema capaz de desempenhar funções como alimentar-se, metabolizar, excretar, respirar, mover-se, crescer, reproduzir-se e responder a estímulos externos".
Essa definição é problemática porque exclui muitos seres que estamos dispostos a chamar de vivos, como as diversas bactérias que não respiram, obtendo energia por outros processos como a fermentação ou a oxidação do enxofre. Se concordarmos em não exigir a realização da totalidade das funções acima descritas, corremos um outro risco, talvez mais grave. Um carro, por exemplo, só não cresce nem se reproduz, mas se desincumbe das demais atividades. Um vírus de computador teria até a capacidade de crescer e reproduzir-se.
Os cientistas, que são sujeitos espertos, perceberam o problema e propuseram outras definições. Utilizo-me agora da indispensável "Britannica". A definição metabólica descreve como sistema vivo o "objeto com limite definido capaz de trocar materiais com o meio sem alterar, por algum tempo, suas propriedades originais". Aqui, alguns esporos capazes de permanecer dormentes por milhares de anos desafiam a definição. Numa leitura rigorosa, a chama de uma vela também poderia ser considerada viva.
Os bioquímicos apelaram para o DNA/RNA, mas, de novo, surgiram problemas.
(...)
Ao que tudo indica, essa necessidade humana de encontrar definições, mesmo que inúteis, para as coisas é mais um "bug" que o Criador colocou na programação do homem."
Fonte: Todos os "bugs" do mundo
Hélio Schwartsman (Folha 21/9/2000)
http://www1.folha.uol.com.br/folha/pensata/helioschwartsman/ult510u355778.shtml
Sendo assim, talvez a definição única e precisa do conceito de vida esteja (ainda ou sempre) fora do alcance da mente humana. Vamos então tentar outro caminho. Vejamos algumas idéias construídas pelos homens que podem nos ajudar a compreender a natureza da vida.
Algumas definições de vida
O trecho abaixo, retirado do portal da Universidade Federal de Santa Catarina, nos dá uma boa idéia das definições de vida mais comuns. Todas elas têm algo a dizer a respeito dos fenômenos vitais.
"O que é VIDA?
Não existe uma definição definitiva sobre o que seja a vida. Para a ciência, um ser vivo é algo que atenda o conjunto das definições abaixo:
A definição Fisiológica
Foi popular por vários anos. Um ser vivo é definido como sendo um ser capaz de realizar algumas funções básicas, como comer, metabolizar, excretar, respirar, mover, crescer, reproduzir e reagir a estímulos externos. Várias máquinas realizam todas estas funções e, entretanto, não são seres vivos. Um automóvel, por exemplo, come e metaboliza a gazolina, e joga seus excrementos pelo escape. Respira oxigênio e expira gás carbônico. Por outro lado, algumas bactérias vivem na ausência completa de oxigênio, isto é, não respiram, e, sem dúvida, são seres vivos. A definição, portanto, tem falhas.
A definição Metabólica
É ainda popular entre muitos biólogos. Descreve um ser vivo como um objeto finito, que troca matéria continuamente com as vizinhanças, mas sem alterar suas propriedades gerais. A definição parece correta mas, novamente, existem excessões: certas sementes e esporos são capazes de permanecer imutáveis, dormentes, durante anos ou séculos e, depois, nascerem aos serem semeados. A chama de uma vela, por outro lado, também tem uma forma definida, e troca matéria continuamente com as vizinhanças.
A definição Bioquímica (ou bio-molecular)
Seres vivos são seres que contém informação hereditária reproduzível codificada em moléculas de ácidos nucléicos e que controlam a velocidade de reações de metabolização pelo uso de catálise com proteínas especiais chamadas de enzimas. Esta é uma definição de vida muito mais sofisticada que a metabólica ou fisiológica. Existem, também neste caso, alguns contra-exemplos: existe um tipo de vírus que não contém ácido nucléico e é capaz de se reproduzir sem a utilização do ácido nucléico do hospedeiro.
A definição Genética
Um sistema vivo é um sistema capaz de evolução por seleção natural. Em 1859 Charles Darwin publicou o livro que o tornou famoso: "A Origem das Espécies". Um parafraseamento moderno de sua teoria poderia ser algo como: informação hereditária é transportada por grandes moléculas conhecidas como genes. Genes diferentes são responsáveis por características diferentes do organismo. Na reprodução, este código genético é repassado para o organismo gerado. Ocasionalmente, pequenas "falhas" ocorrem na replicação do código, e surgem indivíduos com pequenas variações - ou mutações. Algumas mutações podem conferir características especiais que tornam o organismo mais apto à sobrevivência. Como um resultado, estes genes "mutantes" vão se reproduzir com mais facilidade do que os normais, e esta será a espécie dominante.
A definição Termodinâmica
O segundo princípio da termodinâmica diz que, em um sistema fechado, nenhum processo que leve a um aumento da ordem interna do sistema pode ocorrer. O universo, como um todo, está constantemente indo para uma situação de maior desordem - a entropia do universo aumenta com o passar do tempo. Em um organimo vivo a ordem parece aumentar: uma planta pega moléculas ordinárias de água e gás carbônico e as transforma em clorofila, açúcares e outros carbohidratos, moléculas bem mais elaboradas e ordenadas. Isto ocorre porque um ser vivo é um sistema aberto, que troca massa e energia com as vizinhanças. Alguns cientistas concordam que, na maioria dos sistemas abertos, a ordem aumenta quando se fornece energia para o sistema, e que isto acaba formando ciclos. O mais comum dos ciclos biológicos na Terra é o ciclo biológico do Carbono. Na oxidação dos carbohidratos, o dióxido de carbono é devolvido a atmosfera, completando o ciclo. Vários ciclos termodinâmicos existem mesmo na ausência de vida, como é observado em vários processos químicos. De acordo com este ponto de vista, ciclos biológicos são meramente explorações de ciclos termodinâmicos por organimos vivos."
Fonte: http://www.qmc.ufsc.br/qmcweb/artigos/vida.html
Aristóteles
Para muitos, o primeiro biólogo. Roberto de Andrade Martins e Lilian Al-Chueyr Pereira Martins fazem uma síntese das idéias do pensador grego a respeito da natureza da vida.
"Para Aristóteles, a alma está diretamente ligada à vida: "Aquilo que possui alma se distingue daquilo que não possui alma pela vida" (Aristóteles, De anima II.2, 413a22-23). Aquilo que tem vida tem alma, e vice-versa.
Mas o que é a vida? O que nos permite identificar se uma coisa é viva ou não? Para procurar a natureza da vida, Aristóteles se concentrou nas funções vitais dos vários tipos de seres.
Um animal superior é capaz de se mover, de sentir, de recordar-se, de alimentar-se, de respirar, de reproduzir-se... Tem, enfim, muitas características bem conhecidas. Porém, quais dessas funções são comuns a todos os seres vivos?
Os antecessores de Aristóteles haviam considerado que movimento e sensação eram as características básicas da alma. Por isso, muitos consideraram que a alma era a causa dos movimentos dos seres vivos. Havia também discussões sobre se ela era material ou imaterial, mortal ou imortal.
Aristóteles examinou em sua obra muitas teorias anteriores sobre a alma, e depois apresentou algumas objeções centrais. Afirmou que nenhuma delas levava em consideração todos os tipos de alma, que devem incluir não apenas os seres humanos, mas também todos os tipos de animais e plantas (Aristóteles, De anima I.5, 410b16-26).
Já que as plantas são seres vivos e devem ter alma, não se pode associar a alma à sensação, nem ao pensamento; e como há plantas e animais imóveis, também não se pode associar a alma à locomoção.
"Parece que o princípio encontrado nas plantas também é um tipo de alma, pois este é o único princípio que é comum tanto aos animais quanto às plantas; e ele existe isoladamente do princípio da sensação, embora não exista nada que possua o último sem possuir o primeiro". (Aristóteles, De anima I.5, 411b27-30)
Assim, Aristóteles procurou as características comuns a todos os seres vivos. A capacidade de se nutrir lhe pareceu uma propriedade de todos os animais e plantas.
A capacidade de absorver alimentos pode existir separada de todos os outros poderes, mas os outros não podem existir sem esse nos seres mortais. Isso é evidente no caso das plantas; pois elas não possuem outra capacidade da alma. (Aristóteles, De anima II.2, 413a31-b1)
(...)
Aristóteles estabelece uma hierarquia de potencialidades da alma:
(1) nutrição (acompanhada por crescimento e desenvolvimento e, às vezes, por reprodução);
(2) percepção sensorial (acompanhada por prazer, dor e desejos) e às vezes acompanhada por movimento (voluntário ou espontâneo); e
(3) pensamento."
Fonte:
MARTINS, Roberto de Andrade & MARTINS Lilian Al-Chueyr Pereira. Uma leitura biológica do De anima de Aristóteles. [A biological reading of Aristotle's De anima] Pp. 405-426, in: MARTINS, Lilian Al-Chueyr Pereira; PRESTES, Maria Elice Brzezinski; STEFANO, Waldir; MARTINS, Roberto de Andrade (eds.). Filosofia e história da biologia 2. São Paulo: Fundo Mackenzie de Pesquisa (MackPesquisa), 2007.
Estas idéias já nos dão muito que pensar. É bom lembrar que "alma", para os gregos, não tem o mesmo significado que "alma" para os católicos.
Para Aristóteles, alma e vida são inseparáveis. Se há 3 tipos de alma, podemos supor que haveria 3 maneiras da vida existir. Lembrando que são níveis cumulativos (os animais teriam alma vegetativa e sensível, e os homens seriam os únicos a possuírem as três).
Muitos acreditam que o vitalismo (teoria segundo a qual os seres vivos são gerados por um princípio vital imaterial - hoje desacreditada no meio científico) tem suas bases em Aristóteles e seu conceito de "calor vital". No entanto, para o grego a alma é inseparável do corpo, não tendo, portanto, natureza imaterial.
Aliás, para Aristóteles, a matéria pode ser considerada como uma das quatro causas das coisas (causa material, c. formal, c. final e c. eficiente). O corpo seria o aspecto material, e a alma o aspecto formal. As pedras não têm forma própria como os organismos. A não ser que um escultor tenha uma idéia (causa formal) e use seu formão (causa eficiente) para criar um objeto que produza sensações nas pessoas (causa final), uma obra de arte, uma pedra com forma. Mas nem por isso com alma.
As idéias de Aristóteles percorreram os séculos e estão fortemente presentes na nossa idéia comum a respeito da vida.
Vamos agora pular direto pro século XX.
Idéias contemporâneas sobre a vida
Não existe, como dissemos, uma definição de vida com a qual todos concordem. A questão do vírus é um bom exemplo da discórdia, pois os biólogos ainda não decidiram se está vivo ou não.
Mas a falta de consenso absoluto não quer dizer falta absoluta de consenso. Ou seja, há algumas coisas a respeito das quais os cientistas concordam. Vejamos um pouco do que se aprendeu, desde Aristóteles, sobre nosso objeto central.
Para isto, usaremos um texto articulando diferentes idéias sobre a vida. Foi escrito por Fritjof Capra - um dos pilares do pensamento sistêmico, que ficou conhecido, dentre outras coisas, pelo que chamou de "crise de percepção" e "mudança de paradigmas". Vejamos o texto.
"O que é Vida ? Todas as formas de vida evoluíram a partir de células bacterianas. Porém, como o processo que leva à vida é um continuum, uma definição inequívoca de vida é ainda um mistério. Aquela velha questão, "O que é vida?", quando enfocada pela ciência, é traduzida para: "Quais são as características dos sistemas vivos?". E se olharmos ao redor, dentre a larga variedade de sistemas vivos - como sistemas sociais, ecossistemas, animais, pessoas, plantas, microorganismos - nós podemos fazer uma primeira e importante descoberta: todas as coisas vivas consistem de células. Sem células, nada tem vida neste planeta. Assim, o mais simples dos sistemas vivos é a célula. Mais precisamente, é a célula bacteriana. Hoje sabemos que todas as mais elevadas formas de vida evoluíram a partir da célula bacteriana. E então nós agora podemos perguntar: a. Como uma célula funciona? b. Quais são as características básicas de uma célula? Quando nós olhamos uma célula, encontramos ali uma complexa rede de processos metabólicos que envolvem macromoléculas especiais - longas cadeias de centenas de átomos. Existem dois tipos, dessas macromoléculas, que estão presentes em todas as células: proteínas e ácidos nucleicos (DNA e RNA). Todo processo celular que for característico da vida está associado com esses dois tipos de macromoléculas - autoreplicação com DNA e RNA, e maioria dos demais processos com proteínas. Tal análise sugere uma definição de vida em termos destas macromoléculas. Nós poderíamos simplesmente dizer: "Sistemas vivos são sistemas químicos que contém DNA.". O problema com tal definição é que células mortas também contém DNA. Podemos ler reportagens sobre espetaculares análises de DNA de um esqueleto de Neanderthal (New York Times, July 11, 1997), uma análise de DNA de células que morreram há mais de 100 mil anos atrás! Isto significa que uma definição de vida não pode ser baseada unicamente na presença de DNA. Nossa definição teria de ser modificada para: "Sistemas vivos são sistemas químicos que contém DNA, e que não estejam mortos.". Mas então estaríamos dizendo, essencialmente, que "um sistema vivo é um sistema que está vivendo.", o que é uma tautologia. Sabemos que os conteúdos, ou estruturas, da célula não são suficientes para a definição de vida. Precisamos também descrever os processos metabólicos - em outras palavras, os padrões de relacionamento entre as macromoléculas. Por este prisma, estaremos enfocando as células como um todo, em vez de por suas partes. A célula é caracterizada, primeiro de tudo, por uma membrana, a qual discrimina entre o sistema - o "self", se assim achamos melhor - e seu meio ambiente. Dentro dessas fronteiras existe um sistema metabólico. Tomando nutrientes do mundo externo, a célula sustenta a si mesma como uma cadeia de reações que tomam lugar dentro dessas fronteiras e produzem os componentes celulares, incluindo aqueles que estão agrupados como a própria membrana. Isto, em essência, é a noção de autopoiese, proposta por Humberto Maturana e Francisco Varela. Toda a cadeia metabólica é auto-geradora. Uma célula "constrói a si mesma" devido a cadeia de reações ocorridas no interior de sua fronteira. Notem que o foco nesta definição de vida está no padrão de organização do sistema. Sua estrutura (materiais constituintes) é quase secundária, pois uma rede autopoiética pode ser criada com diferentes estruturas específicas. Entretanto, a estrutura em questão não é de maneira alguma irrelevante. Minha descrição da célula como um todo começa com as palavras, "Absorvendo nutrientes do mundo externo, uma célula sustenta-se por uma cadeia de reações..." A teoria da autopoiese descreve o padrão de organização dessa cadeia de reações, mas também precisamos de uma descrição detalhada de como a célula absorve nutrientes do mundo externo. Isto significa que precisamos definir a célula como um sistema aberto. Um sistema vivo é operacionalmente fechado (uma rede autopoiética), mas materialmente e energicamente aberto. Estudos detalhados da física e química deste fluxo de matéria e energia pelo sistema resultaram na teoria das estruturas dissipativas, desenvolvida por Ilya Prigogine. Uma estrutura dissipativa é um sistema aberto que se mantém longe do estado de equilíbrio. A dinâmica dessas estruturas dissipativas especificamente incluem a emergência espontânea de novas formas de ordenação no que diz respeito à estabilidade. Este fenômeno da emergência foi reconhecido como a origem dinâmica do crescimento, desenvolvimento e evolução. Vemos que a teoria da autopoiese não faz nenhuma referencia ao crescimento físico, desenvolvimento ou evolução. Estes fenômenos, os quais são características essenciais da vida, são consequências de emergência, isto é uma parte integral da dinâmica de sistemas abertos, assim como foi dito. Chegamos então a uma importante conclusão, sistemas abertos crescem; sistemas abertos desenvolvem; sistemas abertos evoluem. Vamos rever o que aprendemos sobre a célula como um sistema vivo. Ela é uma rede metabólica delimitada por uma fronteira; ela é auto-construtora; materialmente e energicamente aberta; ela opera longe do equilíbrio: fazendo isso, cria estruturas de emergência no processo de crescimento, desenvolvimento e evolução. Estas características são descritas por duas teorias diferentes, representando duas perspectivas sobre a vida - a teoria da autopoiese e a teoria de estruturas dissipativas. Quando tentamos integrar estas duas teorias, descobrimos que existe um certo desemparelhamento. Enquanto todos os sistemas autopoiéticos são estruturas dissipativas, nem todas as estruturas dissipativas são sistemas autopoiéticos. Por exemplo, os ciclos catalíticos ("relógios químicos") estudados por Prigogine não formam sua própria fronteira semi-permeável, não são autopoiéticos. Agora, como a emergência é parte integral da dinâmica das estruturas dissipativas, isto significa que todas as estruturas dissipativas tem o potencial de evoluir. Em outras palavras, a evolução começou antes que possamos falar em sistemas vivos. O pensamento de que matéria viva se originou a partir de matéria inanimada por um processo contínuo de "evolução molecular" e largamente aceito. Começando por pequenas moléculas, compostos com crescente complexidade molecular e com modernas propriedades emergentes teriam evoluído, formando ciclos catalíticos e então o também chamado "hiperciclos", que são capaz de auto-replicação. Eventualmente estes hiperciclos envolveram-se com membranas e finalmente a primeira célula surgiu. Neste cenário de evolução molecular, no qual os detalhes estão longe de serem estabelecidos, surge a questão, podemos falar de "sistemas vivos" em algum estágio antes do aparecimento da célula? Em outras palavras, existe um meio de definir as características mínimas de um sistema vivo que poderia ter existido no passado, independente do que tenha evoluído subsequentemente? Como o processo relacionado à vida é contínuo, uma definição inequívoca da vida é muito difícil. De acordo com Luisi, existem muitos pontos no caminho evolucionário onde a marca "vida mínima" poderia ser arbitrariamente imposta. Por exemplo, no nível da auto-replicação; no estágio onde a auto-replicação é acompanhada pela evolução química; no ponto o qual proteínas e ácidos nucleicos começaram a interagir; quando um código genético foi formado; ou quando a primeira célula foi formada. Diferentes definições de vida mínima, embora igualmente justificáveis, podem ser mais ou menos significativas, dependendo do propósito no qual estão sendo usadas. Um problema similar surge quanto ao conceito de mente e consciência. A teoria de Santiago por Maturana e Varela vincula a cognição (o processo do conhecimento) com autopoiese, assim diferentes níveis de sistemas autopoiéticos correspondem a diferentes níveis de cognição. Para o nível que desejamos reservar, os termos "mente e consciência" ficam arbitrários. Vamos ao mais simples sistema vivo e perguntar: qual é a origem de cognição no nível das células? Na teoria de Santiago, cognição esta associado com o processo de união estrutural. Perturbações do meio ambiente provocam mudanças estruturais no sistema. O sistema especifica sua própria mudança estrutural, e ele também especifica que perturbações do meio ambiente o provocam. Desse modo, o sistema "produz um mundo", cada mudança estrutural inicia um ato de cognição. A dinâmica básica destas mudanças estruturais é o processo de emergência. Em outras palavras, a emergência de novas estruturas no ponto de instabilidade e as mudanças estruturais associadas com cognição são descrições diferentes do mesmo fenômeno. Assim, a origem da cognição no nível das células parece estar na confluência de duas características dos sistemas vivos - a abertura material e o fechamento operacional. Porque sistemas vivos são abertos para o fluxo de matéria e energia, eles podem criar estruturas emergentes; e porque eles são redes autopoiéticas auto-delimitadas por uma fronteira, eles podem determinar a que perturbações irão responder com a criação destas estruturas. Estas duas propriedades chaves - abertura material e fechamento operacional - capacitam todos os sistemas vivos a "produzir um mundo" no processo de cognição." Fonte: CAPRA, Fritjof. WHAT IS LIFE? The web page of Life. The Tao of Physicand The Turning Point. (traduzido da revista Ressurgence, pelo petiano Márcio Littleton, nov/98) http://acd.ufrj.br/consumo/disciplinas/tl_capra.htm |